sábado, 31 de dezembro de 2011

Have you seen this woman?



Dando uma olhada nos classificados de domingo, entre as ofertas de aumente sua renda em casa e chocotones trufados com 50% de desconto, encontrei um “procura-se” interessante. Em um espaço de uns 4 cm², havia um desses anúncios de relacionamento cujo conteúdo me chamou atenção. Não pela criatividade ─ o título “procuro noiva” e uma lista com o que o pretendente esperava e o que tinha a oferecer não tinha nada de inovador ─, mas pela reflexão que tive após lê-lo.
O homem era direto, assim como o classificado manda:

“Procuro noiva: mulher de 40 a 50 anos, com até 60kg e vida estabilizada. Calma, romântica, simpática, sonhadora, feliz, dona de casa, livre e desimpedida. Para relacionamento sério.”

Em seguida, ele acrescentava:

“Sou branco, grisalho, fumante, 1,68 e 70kg. Guto.”

E depois havia um número de celular.
Até agora não sei se “Guto” conseguiu a sua princesa encantada através do jornal, mas o seu anúncio me deu muito o que pensar. Quer dizer, não o culpo por tentar encontrar alguém legal para ele. No mínimo, ele deve ter sido muito corajoso para se expor em um veículo de comunicação como o jornal, arriscando-se a trotes e a julgamentos ─ inclusive, o meu próprio. Além disso, a sua pretensão por casamento é mais do que se pode dizer de muitos caras por aí.
Mas também não posso deixar de pensar no que o tal do Guto estava pensando quando escreveu esse anúncio. Afinal, uma mulher que não tenha mais de 50, sem filhos, com a vida totalmente estabilizada e desimpedida, que queira algo sério mas ao mesmo tempo seja “calma, romântica, simpática, sonhadora” e ainda uma dona de casa FELIZ? Mesmo eu, se chegasse aos 40 livre e desimpedida, não acho que diria as palavras dona de casa e feliz numa mesma frase. E, só para constar: e, ainda por cima, magra?

Senta lá, Guto.
Pelo menos o cara acima
foi sincero ↑
A caricatura de mulher perfeita que Guto traçou é algo que todos nós fazemos o tempo todo: idealizar alguém que seja perfeito, mas sem ao menos nos perguntar se o que estamos pedindo é possível ─ ou se temos algo de igual valor para trocar. Afinal, depois de várias linhas retratando a mulher ideal, Guto bem que poderia ter ao menos se proposto a parar de fumar (e, de preferência, parar mesmo). Então, além de ser perfeita, a mulher ainda tem que tolerar um cara que fuma? Ele também poderia falar suas qualidades ou se frequentava uma academia. Ou, com tantas exigências, ter uma conta bancária de 6 dígitos. Sei lá.
Talvez eu esteja realmente interpretando mal Guto e suas intenções casamentísticas, mas tantas exigências da parte dele me fazem pensar que a sua procura é impossível. Então, uma mulher sorridente de 48 anos, solteira e sem filhos, que ganha a vida revendendo Jequiti lê o anúncio, mas ela tem... sei lá, uns 120kg. Será que, se ela ligar e dizer que está interessada, Guto vai querer conhecê-la ao saber que ela é obesa? Ou então aquela mulher de meia-idade bonita, romântica, sonhadora e quer um relacionamento sério depois que o pai dos seus dois filhos foi embora ─ será que, se ela ligar pra ele, Guto vai querer se encontrar com ela e seus filhos?
Algo me diz que não.
Mas se essa santa dona de casa que Guto tanto procura existir de verdade, será que ele a merece?
A realidade é que as pessoas vêm em todos os tamanhos e com todos defeitos e qualidades que podemos imaginar. Escolher quem vamos amar apenas pelas características físicas e psicológicas que prezamos é uma coisa muito idiota de se fazer (incluo todos os programas de namoro fúteis aqui). Porém, mais idiota ainda talvez seja exigir tanto dos outros sem pensarmos o que nós mesmos somos. Deixando o narcisismo de lado: será que somos mesmo a matéria personificada e exata dos sonhos de alguém? Será que não temos defeitos?
Por isso, nesse ano de 2012, seria bom se deixássemos nossas vontades um pouco de lado e pensássemos no que realmente temos, no que precisamos, no que podemos oferecer e no que somos. E, ao invés de pedir mais dos outros, pedir mais de nós mesmos, conhecendo nossas qualidades, defeitos e perceber que ninguém de verdade é perfeito ─ então por que continuamos procurando a perfeição em anúncios de jornais?
Por que queremos tanto dos outros quando não nos esforçamos a oferecer o mesmo?
Não estou falando em se conformar com qualquer pessoa que apareça em seu caminho. Pelo contrário: se sabemos que algo não está legal em nossa vida, o melhor é darmos um chute no comodismo e ir em busca do que realmente nos faz feliz de verdade.
O que quero dizer é: você pode ter exatamente o que você quer?
A resposta pode te levar mais perto de sua felicidade... ou apenas de mais um anúncio no jornal.

Feliz 2012!

sábado, 24 de dezembro de 2011

The girl needs some monster in her man



"Riley: Não pense que não sei qual é a sua, Spike. Fique longe dela. Ou eu vou te matar de verdade da próxima vez.
Spike (rindo): Oh, cara. Você está realmente por baixo, não é?
Riley: O quê?
Spike: Olhe para você. Todo com medo que eu seja atraente para sua querida.
Riley: Porque você é.
Spike: Bem... sim. Mas esse não é o seu problema. Mesmo que eu não estivesse aqui, você nunca teria chance com ela.

(Riley empurra Spike na parede, empurrando exatamente onde a mão dele cobre o ferimento feito pela estaca de plástico de Riley)

Spike: Que inferno!
Riley: Acho que quase não te matei o suficiente.
Spike: Qual é. Você já não é assustador e sabe disso.
Riley: Cale a boca.
Spike: Você sabe disso. Caso contrário, não iria atrás de vampiras putinhas para te morderem. (silêncio) A garota precisa de um monstro dentro de seu homem... isso não é algo da sua natureza. Não importa quão baixo você tenta ir.
Riley: Você realmente acha que a conseguiu?
Spike: Não, não acho. Um cara tem que tentar, mesmo assim. Tem que fazer o que pode.
Riley: Se você a tocasse... sabe que eu te mataria de verdade.
Spike: Se eu não tivesse esse chip na minha cabeça, eu já teria te matado há muito tempo. O amor é grande, não?

(Spike joga a garrafa de bebida que estava entornando para Riley, que pega e tira a tampa. Ele senta em um sofá perto e toma um trago)

Spike: Às vezes eu te invejo tanto que me sufoca. E às vezes penso que tenho a melhor vantagem. Estar tão perto dela e não a ter. Estar sozinho, mesmo quando a abraça. Senti-la, senti-la por baixo de você. A sua volta. O cheiro... (pausa) Não, você tem a melhor parte.

(Riley olha para Spike, toma outro um trago)

Riley (amargo): Eu sou um cara de sorte. Sim. Eu sou o cara.

(Riley toma um outro gole. Eles continuam sentados juntos.)"

Buffy The Vampire Slayer, 5x10 - Into The Woods

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Guessings



Buffy: How do you always know exactly what I feel?
Spike: I’m lucky with guessing.
Buffy: You know it isn’t enough to me.
Spike: I just I just watch you, ok? Can be strange but I’m good at watching you and guessing what you feel.
Buffy: So am I foreseeable?
Spike: Are you kidding? Girl you’re like a big surprise box! When I’m with you never know if you gonna listen to me, kick my ass, or both!
Buffy: I'm listening you now.
Spike: Thank you Lord for it.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Believe me



"I'll tell you something, little bitch: have you ever thought how this situation is hard to me? No, you haven't because in your perfect world I'm only "Spike The Bad Monster Who Can't Bite Your Pretty Neck Because Has a Damn Chip in The Head"! But now I want you to listen me, you irritant and nasty Slayer: I'm just tired of thinking about you all the time for nothing! I'm tired of being so close to you and feel the blood running into your skin but not drinking you! I'm tired of hiding in the dark every time I come to your room only to see you asleep! I even dream about you ─ bloody hell! I haven't dreamed about somebody for the last 120 years!
And for your information, even after you've said I'm beneath you, I still want to comfort you, for the most strange it seems to me! And tonight I was really sure that I hated you with all my dead heart until seeing your face again and my heart stops!
So if you think it isn't love baby, believe me ─ I'm just dying to know what you think it is."

#

Buffy and Spike don't belong to me. They're all Joss Whedon stuff.

Fool for Love


Because maybe I'm only the one that is around when you're miserable...
But maybe I'm not only it.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Os Magos


A capa é sugestiva e seu resumo na contracapa esboça mais promessas do que iria cumprir – fortes comparações com Harry Potter, As Crônicas de Nárnia e O Mágico de Oz. Não se engane: tudo o que Lev Grossman, o autor de Os Magos, menos quer é isso.
Na história protagonizada por Quentin Coldwater, um garoto de 16 anos que muitos chamariam erroneamente de “Harry Potter do Brooklyn” (uma vez que não haveria diferenças maiores do que a de Harry com Coldwater), Grossman deixa bem claro que, diferente da história de J. K. Rowling, Quentin não é nem será um herói – quem se aventura a ler, percebe que, desde o início, esse personagem principal toma ares de coadjuvante durante toda a história, deixando-se passar pelos demais personagens. Grossman assim deixa bem claro tanto que está cansado de heróis perfeitos quanto que Quentin não é um deles: não tem grandes qualidades, ambições, nem habilidades que o destaque dos demais. E é com essas características que se iniciam as desventuras do jovem mago.
Quentin vive em seu mundo no Brooklyn como um estranho dentro dele, pensando estar no lugar errado e esperando que algo diferente aconteça, mas sem mover-se para mudar a realidade, se refugiando na leitura de vários livros sobre um mundo mágico chamado Fillory (que o autor retrata como As Crônicas de Nárnia). Não deixa de ser uma alfinetada inteligente de Grossman para todos aqueles que se sentem na mesma situação de monotonia do jovem e que preferem sonhar a agir.
Mas ao contrário do que se esperaria, quando Quentin descobre a magia e amigos que poderiam mudar sua vida, nem por isso a sensação de estar no lugar certo se concretiza para o garoto. Em um desassossego constante, Quentin parece solitário na maior parte do tempo, mesmo quando acompanhado daqueles que se importam com ele, procurando por um propósito maior e muitas vezes se afundando por ele, sem saber o que exatamente procura. Argumentando a favor de Quentin, em sua busca de um final feliz, ao contrário de muitos heróis, de fato, ele está mais sozinho. São as escolhas dele que o guiarão durante suas desventuras bem mais do que a sorte, azar ou destino. E isso não poderia ser fácil.
A história é inconstante, intercalando períodos cheios de informação e aventura com longas passagens de embriaguez (talvez venha daí a famosa "dose de uísque puro", que George R. R. Martin escreve na capa, pois Harry Potter para mim ainda é uma leitura superior) e conversas simplesmente jogadas fora. Mas se resolver ler o livro, saiba que O Mago não é uma história sobre a procura de Quentin a um lugar mágico chamado Fillory. Na verdade, é uma história sobre a procura da felicidade e a efemeridade dela. E de como nunca a colocamos onde estamos.
Boa leitura!

Os Magos, Lev Grossman
2009, Editora Amarilys
455 páginas

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Happy Birthday



Eu não quero que você se lembre de mim só porque é meu aniversário. Se todo esse tempo você precisa de um calendário para lembrar-se de mim, vou presumir que somente sou um dia entre 364 outros deles ─ e que quando acabar este, estarei novamente esquecida, como todas as vezes que você sequer pensou em mim, enquanto eu torcia para que você estivesse bem onde estivesse, me preocupando e rezando por ti a cada dia do ano.
Eu não quero que você lembre de mim só porque uma foto com uma data apareceu na sua tela. Se qualquer outra lembrança minha não foi capaz de fazer você lembrar-se de mim em um dia normal e que você não precisa de minha ajuda, não será neste dia que acreditarei que faço alguma diferença para você.
Eu não quero que você se lembre de mim só porque acha que assim está me fazendo feliz. Eu preferiria que você apenas me perguntasse se estou bem num dia em que não estou do que me felicitar mil vezes num dia supostamente feliz.
Eu não quero que você se lembre de mim só porque esse é um dia especial, quando tudo o que você faz é dizê-lo. Que eu saiba, nenhum acontecimento crucial para o mundo aconteceu nesta data com a minha ajuda. "É o dia do seu nascimento", você dirá. Mas, enquanto fito sozinha as mensagens que me enviaram, não parece que seja tão especial assim como você diz.
Eu não quero que você se lembre de mim só porque acha que a data precisa de um presente. A verdade é que não preciso de nada que eu já não tenha. E se para você eu normalmente não existo, não seria muito diferente hoje, não é verdade?
Em todo caso, feliz aniversário para mim.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Perfeita

"Eu sempre fui uma puta como a Blair pois ela sempre fora a Serena."
(19/03/2010)

Perfeita, perfeita, perfeita.
Era essa palavra que Blair Waldorf bufava a cada passo que dava pela Quinta Avenida com seus Manolos Blaniks vermelhos de dez centímetros em direção a Constance Billard School for Girls. Não eram nem oito da manhã e Serena já havia fodido com seu dia completamente.
Só com seu dia? Com sua vida inteira.

E o pior é que parecia que ela não ia parar nunca.
Claro que Blair sempre planejara para si uma vida perfeita – a família perfeita, o namorado perfeito, as roupas perfeitas, enfim, apenas uma vida perfeitamente perfeita.
Quer dizer, era pedir muito?
Não, é claro que não.

Mas é claro também que porra alguma da sua vida jamais acontecera da forma que ela imaginava – e, tudo bem, Blair sempre idealizava demais. Mas também era verdade que ela se empenhava muito para conseguir o que queria. Para ela, era como se vestir: sabia que não conseguiria sapatos maravilhosos se simplesmente esperasse por eles – era necessário que alguém investigasse incessantemente os sapatos da próxima estação, descobrisse como consegui-los antes que chegassem na Barney’s, subornasse e ameaçasse um ou dois estilistas conhecidos de seu pai e depois de tudo isso ainda contratasse um jatinho para mandar os sapatos de Paris para Nova York no menor tempo possível para se usar na escola numa segunda-feira.
Já Serena van der Woodsen, se dissesse que queria sapatos novos, muito provavelmente a coleção da Jimmy Choos de 2017 choveria na porta do seu apartamento ao lado do Met. Não que ela realmente fosse querer, já que ela usava as mesmas botas em estado de decomposição desde que retornara para a Constance, embora ninguém parecesse notar aquilo, porque Serena era perfeita.
Era exatamente por isso que Blair estava puta. Como era possível que tudo sempre desse certo para a vaca da Serena, sem ela fazer esforço algum? E o pior: sempre conseguindo tudo o que deveria ser de Blair por direito? Como era possível que alguém que na maior parte do tempo não fazia esforço algum com sua bunda branca conseguisse tudo o que todo mundo mais queria?

Inclusive uma vaga em Yale sem nem querer.

Enquanto isso Blair não conseguia sequer pensar na sua medíocre admissão em Georgetown sem quase acabar com uma caixa inteira de seus Malboro’s Ultra Light.
Quer dizer, o que Serena ainda não tinha conseguido de Blair? Os amigos, a popularidade, sua família, a vaga na faculdade de Yale...
E até mesmo a virgindade de Nate.
Blair mordeu o lábio inferior enquanto caminhava, se segurando para não chorar. Serena havia conseguido até mesmo o seu Nate Archibald, a única coisa que importava para Blair mais do que Yale.
E seja lá o que eles fizeram na primeira vez deles (e a garota tentava não pensar nisso), isso era algo que Blair nunca conseguiria tirar dos dois. Enquanto ela, Blair Waldorf, continuava virgem e agora que brigara com Nate não tinha nenhum Gary Grant na sua vida para tirar aquela maldita coisa.
Blair jogou o cigarro que fumava no chão ao chegar à entrada da escola, amassando-o em seguida com os Manolos. Embora todo mundo fosse ficar morrendo de inveja dos sapatos über cools de Blair assim que adentrasse a Constance, a única utilidade que eles tinham para ela agora era apagar a chama daquele cigarro que poderia sintetizar sua vida: apagado, jogado no chão e achatado por uma coisa que todos acreditavam ser perfeita.
- Blair! Me espera!
Uma voz extremamente conhecida e doce chamou Blair de volta a realidade. Os seus sapatos de dez centímetros impediam qualquer chance de Blair acelerar pela escola, ela sabia, mas isso não impedia que a garota ignorasse quem a chamava enquanto caminhava.
Serena a alcançou já no hall da escola, com um enorme sorriso no rosto sem-maquiagem-mas-ainda-sim-perfeito, sem notar que Blair a ignorava.
- Blair, você tem que ouvir a maior novidade que aconteceu comigo!
Blair a olhou sem expressão, imaginando se Manolos Blanicks de setecentos dólares poderiam ocasionar um traumatismo craniano letal e qual a força mínima para que isso acontecesse.
Mas quando percebeu, Serena já a estava a guiando para uma mesa menos movimentada e se sentando para conversarem antes das aulas, como antes faziam.
- Que sapatos maravilhosos! – elogiou Serena, com um sorriso que Blair percebeu ser sincero. – Quantas pessoas você subornou desta vez?
Blair sorriu também, desviando os olhos, pega desprevenida. Serena às vezes a conhecia tão bem. Não disse nada. Apenas se deixou ficar ao lado de uma Serena van der Woodsen extremamente animada e falante, mesmo sabendo que seria impossível evitar que ela fodesse sua vida novamente num futuro próximo.
Porque Blair sabia que o problema era que ela sempre amou Serena e a odiou com a mesma intensidade.

#

Como dá para perceber, nada me pertence. É tudo da incrível Cecily von Ziegesar. Obrigada.

#

À você, Serena, que achava-se a dona da verdade e da (in)justiça, mas que nunca quis ouvir as razões daquela personagem problemática que você conheceu. Ou melhor, que nunca chegou realmente a conhecer.
Eu não te amo. Mas agora também não mais a odeio.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

You've been here all along


Porque, por ela, ele fazia as coisas mais impossíveis.
E era por isso que ela esteve lá o tempo todo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

The Time of My Life



“(...) Olhei para cima. Respirei fundo, enchi os pulmões de um ar delicioso e mergulhei na observação da paisagem celeste. Coloquei uma das mãos nas costas de Gabe e continuei a olhar para o alto.
Senti algo que nunca sentira antes. Era um sentimento muito além da felicidade e muito próximo da tristeza. Um sentimento tão poderoso que teria que passar logo, do contrário eu explodiria. Eu me sentia assim porque estava com Gabe.
O que eu estava vivendo não era um conto de fadas, era algo muito mais precioso.”
Soul Love, Lynda Waterhouse.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

The Road Less Traveled


(↑ Esta é pra você, Mia M. ♥)

Eu adoro essa sensação que somente as férias de janeiro nos trazem, todos os anos. Essa sensação familiar de que algo extraordinariamente novo e fantástico está apenas nos aguardando e que não importa se você vai continuar do mesmo lugar ou se vai mudar de vida, o recomeço está prestes a acontecer, como uma fênix renascendo das cinzas.
Mas, sinceramente, o melhor mesmo é quando se espera por algo que ainda não começou, mas que você tem certeza que te fará virar a esquina da sua vida. Algumas vezes. Aquela hora peculiar em que você deixa tudo para trás e recomeça tudo novamente, como se não tivesse mais passado. Talvez seja esta a sensação que estou me referindo: a sensação de poder mudar e ser quem você quiser em um lugar diferente.
Alguns podem chamar de esquizofrenia, mas para mim não há nada melhor do que ir para um lugar onde ninguém saiba nada sobre quem sou, para poder ser alguém totalmente diferente. Não importa que você não tenha mudado de cidade, de nome ou mesmo de corte de cabelo, porque você tem oportunidade de ser alguém diferente para mais pessoas. Ninguém sabe nada sobre sua vida, sobre o que você gosta, ou sobre aquela maldita vez em que você fudeu sua vida legal até cair onde está agora. Você simplesmente não deve explicações a ninguém. E não importa quem ou como você era, mas sim como vai ser.
Todos nós temos esse dia muitas vezes durante nossas vidas. Nem sempre é exatamente o que gostaríamos de ter (e eu sei bem disso), mas a simples condição de poder ser alguém que não é o “eu” que nossos pais, colegas e até mesmo nós mesmos conhecemos, faz com que qualquer um acabe reavaliando a oportunidade maravilhosa que temos.
Quando não lhe resta nada, você ainda pode mudar.
E isso muda tudo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vermelho



Severo Snape corria contra o tempo, em direção àquela casa conhecida. Alguma coisa dizia a ele que não poderia chegar a tempo e parecia que quanto mais corria, mais longe ficava da casa, como se alguém não quisesse que ele impedisse o desfecho, que infelizmente Snape sabia de cor qual era.
Foi então que ouviu aquele grito e de repente já estava no andar superior da casa. Havia sangue em toda a parte. E ali estava ela, no meio do quarto. Lily, implorando sua ajuda enquanto desabava no chão balbuciando seu nome; os olhos, outrora tão verdes, vítreos e apavorados, e os cabelos ruivos encharcados de sangue.
Severo abriu os olhos, a respiração descompassada, horrorizado com a cena que ainda repercutia em sua mente.
Mais um pesadelo.
E ele não havia conseguido salvar Lily novamente.
O bruxo levantou-se com rapidez, colocou sua capa preta e saiu, com intuito de ir até a enfermaria e roubar um pouco de poção do sono. Não tivera tempo de preparar para si mesmo naquela semana e Pomfrey nunca entregaria de boa vontade a poção do sono para ele, pelo menos não sem um bom motivo.
E Severo Snape nunca daria explicações a ninguém.
Subiu rapidamente as escadas em direção ao quarto andar, sua capa negra farfalhando no corredor deserto. A verdade era que ele nunca soubera os detalhes do que realmente havia acontecido na noite da morte de Lilian Evans e nunca saberia muito além do fato de que naquele dia não houvera sangue, porque ele mesmo havia implorado muitas vezes para que não houvesse. Só havia a certeza de que era culpado daquilo tudo. Afinal, ele mesmo havia jurado que a protegeria para sempre.
E ele falhara.
E era por isso que Snape achava que merecia todo o sofrimento do mundo.
Mas ver o precioso sangue dela derramado outra vez em seus frequentes pesadelos era uma coisa que Severo preferia evitar, se pudesse. Por isso ele precisava da poção.
O esquecimento.
A paz silenciosa.
O sono sem sonhos.
Severo entrou pé ante pé na Ala Hospitalar, em busca do precioso líquido que embalaria suas dores, encontrando-o na mesma prateleira de sempre, como se Pomfrey soubesse que ele precisaria de mais uma dose diária de amnésia. Com sua varinha, colocou um pouco da poção no pequeno vidro que acabara de conjurar.
Pronto.
A cura temporária.
E enquanto voltava apressado aos seus aposentos, pensava, como muitas outras vezes, que não era digno de todo aquele estupor noturno. Snape sabia muito bem que merecia ver Lily morrendo; que merecia sentir-se culpado, apenas para não esquecer que fora ele mesmo quem a matou. Não importava que não tivesse havido sangue, dor ou tortura na morte dela. Talvez isso só tornasse as coisas mais difíceis, pois ao invés de pedir uma morte limpa para ela, Snape deveria tê-lo impedido.
Mesmo que tivesse de morrer por isso.
Porque, dessa forma, sua existência teria valido a pena. Porque agora, sem Lily, a vida dele não valia coisa alguma. Talvez no futuro, como Dumbledore sempre lhe dizia, ele pudesse fazer algo que redimisse uma ínfima parte de toda a sua culpa naquilo tudo, mas ele preferia ter morrido para protegê-la do que esperar por esse momento que poderia não vir.
E se viesse, ainda não seria para ela.
A verdade é que Severo Snape nunca acreditara em coisas que não fossem controladas por si mesmo. Nunca acreditara em Deus, sorte ou mesmo em destino. Sua vida inteira fora determinada unicamente por suas próprias ações e escolhas e essa era uma das poucas coisas de que ainda podia se orgulhar. O fato de ser o único culpado por seu próprio sofrimento era, na verdade, o maior consolo que Severo Snape poderia obter.
Por isso Severo nunca se importara em sofrer.
Mas somente enquanto acordado. Se ele parasse de sorver a sua poção pacificadora uma noite que fosse, veria em seus sonhos a terrível mancha vermelha que tingia toda a extensão de seus dias. Era o vermelho que tomava conta de seus sonhos quando não conseguia preparar a poção a tempo. Era o vermelho doentio que invadia sua mente há dezessete anos, toda a vez que deixava sua mente vagar sem o efeito do sonífero. Era o mesmo maldito vermelho que vinha a sua cabeça toda vez que tinha que pensar sobre o passado.
O vermelho dos cabelos de Lily.
E isso o enlouquecia.
E enquanto olhava a poção recém surrupiada da Ala Hospitalar em seu quarto, Severo não podia ignorar o poder que o vermelho exercia em sua vida, pois de certa forma Lilian Evans sempre fora o vermelho. Suas bochechas quando encabulada ficavam do mesmo tom leve do crepúsculo que um dia eles viram juntos no lago de Hogwarts. Seus cabelos eram do mesmo tom quente de vermelho do fogo quando se esquentavam no inverno (nesses tempos, Lily sempre usava as luvas de lã vermelha que a mãe tricotara para ela). Seus lábios eram o vermelho delicado e suculento das suas amoras silvestres preferidas. Tudo que se lembrava em Lily era vermelho, vermelho e às vezes verde penetrante, mas principalmente vermelho. Lembrar-se de Lily era todo aquele sofrimento escarlate e também era o preço pela presença dela em seus sonhos, que invariavelmente terminavam com o sangue (maldito vermelho) dela ensopando a consciência do bruxo e o despertando quase em gritos.
E a falta dela era aquela dor aguda que, dividida com a culpa de seus atos, preenchia todas as horas em que estava desprevenido.
Lembrar-se de Lily ou esquecê-la. Eram apenas dois modos diferentes de masoquismo e Severo Snape já estava acostumado com o sofrimento.
Só precisava escolher a maneira menos dolorosa de sofrer por ela.
E um dia, prometeu, ele ainda iria fazer algo que realmente valesse a pena por Lily.
Mas, naquela noite, infelizmente, só poderia fazer algo por si mesmo.
E assim Severo Snape tomou a poção do sono em um só gole e adormeceu até o dia seguinte.

#

Nenhum personagem pertence a mim. É tudo da maravilhosa J.K. Obrigada.

#

[Inspirado em “Dust”, de Dark K. Sly
(“Porque fora por Draco.”)
E em “Verde, ouro, prata, vermelho”, de Souhait

http://www.fanfiction.net/s/5720302/1/Verde_ouro_prata_vermelho
(“Você precisou morrer para fazê-lo.”)
Recomendo que leiam.]
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