domingo, 30 de janeiro de 2011

Perfeita

"Eu sempre fui uma puta como a Blair pois ela sempre fora a Serena."
(19/03/2010)

Perfeita, perfeita, perfeita.
Era essa palavra que Blair Waldorf bufava a cada passo que dava pela Quinta Avenida com seus Manolos Blaniks vermelhos de dez centímetros em direção a Constance Billard School for Girls. Não eram nem oito da manhã e Serena já havia fodido com seu dia completamente.
Só com seu dia? Com sua vida inteira.

E o pior é que parecia que ela não ia parar nunca.
Claro que Blair sempre planejara para si uma vida perfeita – a família perfeita, o namorado perfeito, as roupas perfeitas, enfim, apenas uma vida perfeitamente perfeita.
Quer dizer, era pedir muito?
Não, é claro que não.

Mas é claro também que porra alguma da sua vida jamais acontecera da forma que ela imaginava – e, tudo bem, Blair sempre idealizava demais. Mas também era verdade que ela se empenhava muito para conseguir o que queria. Para ela, era como se vestir: sabia que não conseguiria sapatos maravilhosos se simplesmente esperasse por eles – era necessário que alguém investigasse incessantemente os sapatos da próxima estação, descobrisse como consegui-los antes que chegassem na Barney’s, subornasse e ameaçasse um ou dois estilistas conhecidos de seu pai e depois de tudo isso ainda contratasse um jatinho para mandar os sapatos de Paris para Nova York no menor tempo possível para se usar na escola numa segunda-feira.
Já Serena van der Woodsen, se dissesse que queria sapatos novos, muito provavelmente a coleção da Jimmy Choos de 2017 choveria na porta do seu apartamento ao lado do Met. Não que ela realmente fosse querer, já que ela usava as mesmas botas em estado de decomposição desde que retornara para a Constance, embora ninguém parecesse notar aquilo, porque Serena era perfeita.
Era exatamente por isso que Blair estava puta. Como era possível que tudo sempre desse certo para a vaca da Serena, sem ela fazer esforço algum? E o pior: sempre conseguindo tudo o que deveria ser de Blair por direito? Como era possível que alguém que na maior parte do tempo não fazia esforço algum com sua bunda branca conseguisse tudo o que todo mundo mais queria?

Inclusive uma vaga em Yale sem nem querer.

Enquanto isso Blair não conseguia sequer pensar na sua medíocre admissão em Georgetown sem quase acabar com uma caixa inteira de seus Malboro’s Ultra Light.
Quer dizer, o que Serena ainda não tinha conseguido de Blair? Os amigos, a popularidade, sua família, a vaga na faculdade de Yale...
E até mesmo a virgindade de Nate.
Blair mordeu o lábio inferior enquanto caminhava, se segurando para não chorar. Serena havia conseguido até mesmo o seu Nate Archibald, a única coisa que importava para Blair mais do que Yale.
E seja lá o que eles fizeram na primeira vez deles (e a garota tentava não pensar nisso), isso era algo que Blair nunca conseguiria tirar dos dois. Enquanto ela, Blair Waldorf, continuava virgem e agora que brigara com Nate não tinha nenhum Gary Grant na sua vida para tirar aquela maldita coisa.
Blair jogou o cigarro que fumava no chão ao chegar à entrada da escola, amassando-o em seguida com os Manolos. Embora todo mundo fosse ficar morrendo de inveja dos sapatos über cools de Blair assim que adentrasse a Constance, a única utilidade que eles tinham para ela agora era apagar a chama daquele cigarro que poderia sintetizar sua vida: apagado, jogado no chão e achatado por uma coisa que todos acreditavam ser perfeita.
- Blair! Me espera!
Uma voz extremamente conhecida e doce chamou Blair de volta a realidade. Os seus sapatos de dez centímetros impediam qualquer chance de Blair acelerar pela escola, ela sabia, mas isso não impedia que a garota ignorasse quem a chamava enquanto caminhava.
Serena a alcançou já no hall da escola, com um enorme sorriso no rosto sem-maquiagem-mas-ainda-sim-perfeito, sem notar que Blair a ignorava.
- Blair, você tem que ouvir a maior novidade que aconteceu comigo!
Blair a olhou sem expressão, imaginando se Manolos Blanicks de setecentos dólares poderiam ocasionar um traumatismo craniano letal e qual a força mínima para que isso acontecesse.
Mas quando percebeu, Serena já a estava a guiando para uma mesa menos movimentada e se sentando para conversarem antes das aulas, como antes faziam.
- Que sapatos maravilhosos! – elogiou Serena, com um sorriso que Blair percebeu ser sincero. – Quantas pessoas você subornou desta vez?
Blair sorriu também, desviando os olhos, pega desprevenida. Serena às vezes a conhecia tão bem. Não disse nada. Apenas se deixou ficar ao lado de uma Serena van der Woodsen extremamente animada e falante, mesmo sabendo que seria impossível evitar que ela fodesse sua vida novamente num futuro próximo.
Porque Blair sabia que o problema era que ela sempre amou Serena e a odiou com a mesma intensidade.

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Como dá para perceber, nada me pertence. É tudo da incrível Cecily von Ziegesar. Obrigada.

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À você, Serena, que achava-se a dona da verdade e da (in)justiça, mas que nunca quis ouvir as razões daquela personagem problemática que você conheceu. Ou melhor, que nunca chegou realmente a conhecer.
Eu não te amo. Mas agora também não mais a odeio.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

You've been here all along


Porque, por ela, ele fazia as coisas mais impossíveis.
E era por isso que ela esteve lá o tempo todo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

The Time of My Life



“(...) Olhei para cima. Respirei fundo, enchi os pulmões de um ar delicioso e mergulhei na observação da paisagem celeste. Coloquei uma das mãos nas costas de Gabe e continuei a olhar para o alto.
Senti algo que nunca sentira antes. Era um sentimento muito além da felicidade e muito próximo da tristeza. Um sentimento tão poderoso que teria que passar logo, do contrário eu explodiria. Eu me sentia assim porque estava com Gabe.
O que eu estava vivendo não era um conto de fadas, era algo muito mais precioso.”
Soul Love, Lynda Waterhouse.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

The Road Less Traveled


(↑ Esta é pra você, Mia M. ♥)

Eu adoro essa sensação que somente as férias de janeiro nos trazem, todos os anos. Essa sensação familiar de que algo extraordinariamente novo e fantástico está apenas nos aguardando e que não importa se você vai continuar do mesmo lugar ou se vai mudar de vida, o recomeço está prestes a acontecer, como uma fênix renascendo das cinzas.
Mas, sinceramente, o melhor mesmo é quando se espera por algo que ainda não começou, mas que você tem certeza que te fará virar a esquina da sua vida. Algumas vezes. Aquela hora peculiar em que você deixa tudo para trás e recomeça tudo novamente, como se não tivesse mais passado. Talvez seja esta a sensação que estou me referindo: a sensação de poder mudar e ser quem você quiser em um lugar diferente.
Alguns podem chamar de esquizofrenia, mas para mim não há nada melhor do que ir para um lugar onde ninguém saiba nada sobre quem sou, para poder ser alguém totalmente diferente. Não importa que você não tenha mudado de cidade, de nome ou mesmo de corte de cabelo, porque você tem oportunidade de ser alguém diferente para mais pessoas. Ninguém sabe nada sobre sua vida, sobre o que você gosta, ou sobre aquela maldita vez em que você fudeu sua vida legal até cair onde está agora. Você simplesmente não deve explicações a ninguém. E não importa quem ou como você era, mas sim como vai ser.
Todos nós temos esse dia muitas vezes durante nossas vidas. Nem sempre é exatamente o que gostaríamos de ter (e eu sei bem disso), mas a simples condição de poder ser alguém que não é o “eu” que nossos pais, colegas e até mesmo nós mesmos conhecemos, faz com que qualquer um acabe reavaliando a oportunidade maravilhosa que temos.
Quando não lhe resta nada, você ainda pode mudar.
E isso muda tudo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vermelho



Severo Snape corria contra o tempo, em direção àquela casa conhecida. Alguma coisa dizia a ele que não poderia chegar a tempo e parecia que quanto mais corria, mais longe ficava da casa, como se alguém não quisesse que ele impedisse o desfecho, que infelizmente Snape sabia de cor qual era.
Foi então que ouviu aquele grito e de repente já estava no andar superior da casa. Havia sangue em toda a parte. E ali estava ela, no meio do quarto. Lily, implorando sua ajuda enquanto desabava no chão balbuciando seu nome; os olhos, outrora tão verdes, vítreos e apavorados, e os cabelos ruivos encharcados de sangue.
Severo abriu os olhos, a respiração descompassada, horrorizado com a cena que ainda repercutia em sua mente.
Mais um pesadelo.
E ele não havia conseguido salvar Lily novamente.
O bruxo levantou-se com rapidez, colocou sua capa preta e saiu, com intuito de ir até a enfermaria e roubar um pouco de poção do sono. Não tivera tempo de preparar para si mesmo naquela semana e Pomfrey nunca entregaria de boa vontade a poção do sono para ele, pelo menos não sem um bom motivo.
E Severo Snape nunca daria explicações a ninguém.
Subiu rapidamente as escadas em direção ao quarto andar, sua capa negra farfalhando no corredor deserto. A verdade era que ele nunca soubera os detalhes do que realmente havia acontecido na noite da morte de Lilian Evans e nunca saberia muito além do fato de que naquele dia não houvera sangue, porque ele mesmo havia implorado muitas vezes para que não houvesse. Só havia a certeza de que era culpado daquilo tudo. Afinal, ele mesmo havia jurado que a protegeria para sempre.
E ele falhara.
E era por isso que Snape achava que merecia todo o sofrimento do mundo.
Mas ver o precioso sangue dela derramado outra vez em seus frequentes pesadelos era uma coisa que Severo preferia evitar, se pudesse. Por isso ele precisava da poção.
O esquecimento.
A paz silenciosa.
O sono sem sonhos.
Severo entrou pé ante pé na Ala Hospitalar, em busca do precioso líquido que embalaria suas dores, encontrando-o na mesma prateleira de sempre, como se Pomfrey soubesse que ele precisaria de mais uma dose diária de amnésia. Com sua varinha, colocou um pouco da poção no pequeno vidro que acabara de conjurar.
Pronto.
A cura temporária.
E enquanto voltava apressado aos seus aposentos, pensava, como muitas outras vezes, que não era digno de todo aquele estupor noturno. Snape sabia muito bem que merecia ver Lily morrendo; que merecia sentir-se culpado, apenas para não esquecer que fora ele mesmo quem a matou. Não importava que não tivesse havido sangue, dor ou tortura na morte dela. Talvez isso só tornasse as coisas mais difíceis, pois ao invés de pedir uma morte limpa para ela, Snape deveria tê-lo impedido.
Mesmo que tivesse de morrer por isso.
Porque, dessa forma, sua existência teria valido a pena. Porque agora, sem Lily, a vida dele não valia coisa alguma. Talvez no futuro, como Dumbledore sempre lhe dizia, ele pudesse fazer algo que redimisse uma ínfima parte de toda a sua culpa naquilo tudo, mas ele preferia ter morrido para protegê-la do que esperar por esse momento que poderia não vir.
E se viesse, ainda não seria para ela.
A verdade é que Severo Snape nunca acreditara em coisas que não fossem controladas por si mesmo. Nunca acreditara em Deus, sorte ou mesmo em destino. Sua vida inteira fora determinada unicamente por suas próprias ações e escolhas e essa era uma das poucas coisas de que ainda podia se orgulhar. O fato de ser o único culpado por seu próprio sofrimento era, na verdade, o maior consolo que Severo Snape poderia obter.
Por isso Severo nunca se importara em sofrer.
Mas somente enquanto acordado. Se ele parasse de sorver a sua poção pacificadora uma noite que fosse, veria em seus sonhos a terrível mancha vermelha que tingia toda a extensão de seus dias. Era o vermelho que tomava conta de seus sonhos quando não conseguia preparar a poção a tempo. Era o vermelho doentio que invadia sua mente há dezessete anos, toda a vez que deixava sua mente vagar sem o efeito do sonífero. Era o mesmo maldito vermelho que vinha a sua cabeça toda vez que tinha que pensar sobre o passado.
O vermelho dos cabelos de Lily.
E isso o enlouquecia.
E enquanto olhava a poção recém surrupiada da Ala Hospitalar em seu quarto, Severo não podia ignorar o poder que o vermelho exercia em sua vida, pois de certa forma Lilian Evans sempre fora o vermelho. Suas bochechas quando encabulada ficavam do mesmo tom leve do crepúsculo que um dia eles viram juntos no lago de Hogwarts. Seus cabelos eram do mesmo tom quente de vermelho do fogo quando se esquentavam no inverno (nesses tempos, Lily sempre usava as luvas de lã vermelha que a mãe tricotara para ela). Seus lábios eram o vermelho delicado e suculento das suas amoras silvestres preferidas. Tudo que se lembrava em Lily era vermelho, vermelho e às vezes verde penetrante, mas principalmente vermelho. Lembrar-se de Lily era todo aquele sofrimento escarlate e também era o preço pela presença dela em seus sonhos, que invariavelmente terminavam com o sangue (maldito vermelho) dela ensopando a consciência do bruxo e o despertando quase em gritos.
E a falta dela era aquela dor aguda que, dividida com a culpa de seus atos, preenchia todas as horas em que estava desprevenido.
Lembrar-se de Lily ou esquecê-la. Eram apenas dois modos diferentes de masoquismo e Severo Snape já estava acostumado com o sofrimento.
Só precisava escolher a maneira menos dolorosa de sofrer por ela.
E um dia, prometeu, ele ainda iria fazer algo que realmente valesse a pena por Lily.
Mas, naquela noite, infelizmente, só poderia fazer algo por si mesmo.
E assim Severo Snape tomou a poção do sono em um só gole e adormeceu até o dia seguinte.

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Nenhum personagem pertence a mim. É tudo da maravilhosa J.K. Obrigada.

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[Inspirado em “Dust”, de Dark K. Sly
(“Porque fora por Draco.”)
E em “Verde, ouro, prata, vermelho”, de Souhait

http://www.fanfiction.net/s/5720302/1/Verde_ouro_prata_vermelho
(“Você precisou morrer para fazê-lo.”)
Recomendo que leiam.]
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