quarta-feira, 27 de outubro de 2010

30 Centimeters



Era sempre aquela sensação, como se eu tivesse lepra ou algo do tipo.
Trinta centímetros.
Ele não encostaria em mim nem que sua vida dependesse disso.

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Eu juro que não me incomodava.
Mas (porra!) que mal faria a droga do seu braço direito nos meus ombros?

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Ele achava que tudo estava bem e às vezes eu pensava o mesmo, enquanto fitávamos o horizonte lado a lado em busca de nosso futuro.
Mas eu sabia que não eram meros trinta centímetros que nos separávamos.
Eram as nossas vidas.

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Qualquer pessoa que nos olhasse, julgaria apenas duas pessoas dividindo um espaço em comum.
Dois estranhos a esperar um mesmo ônibus.
Mas eu sempre preferi ser uma estranha a não ter um destino a esperar.

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Ele nunca fora de falar coisas românticas. Eu nunca me importei com isso.
Mas todo aquele espaço entre nós às vezes me deixava louca.
Como nossas vidas poderiam estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe?
À trinta centímetros da única pergunta que eu nunca pude responder.

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Perdi muito tempo pensando que um dia entenderia tudo isso.
Talvez meu maior erro tenha sido o medo de pressioná-lo, quem sabe?
Mas tenho certeza que não era medo. Nem repugnância. Talvez fosse eu.
Porém, o mais provável é que o mistério fosse ele mesmo.

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E assim passamos nossas existências.
E os dois estranhos embarcaram em ônibus diferentes.
Nunca saberei se estive separada à trinta centímetros do céu.
Mas pode ser que fosse também do inferno.

Um comentário:

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